Provável chefe da diplomacia de Trump é filho de cubanos e crítico de ‘tiranias latinas’

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Provável secretário de Estado na nova gestão de Donald Trump, Marco Rubio, 53, é crítico ferrenho de rivais estratégicos dos Estados Unidos, caso da China e das ditaduras latino-americanas Cuba e Venezuela. Nos últimos anos, o senador pela Flórida ficou conhecido também por seus pitacos sobre o Brasil: simpático a Jair Bolsonaro (PL), ele não esconde ser um desafeto de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Filho de imigrantes cubanos, Rubio nasceu em Miami e cresceu num ambiente em que a oposição ao comunismo era senso comum. Quando criança, chegou a dizer ao avô, um exilado da ditadura, que um dia derrubaria Fidel Castro. Os posicionamentos duros contra líderes de esquerda marcaram toda a carreira do atual senador, que pode se tornar o primeiro hispânico a ocupar um dos cargos mais influentes em Washington, equivalente ao posto de ministro das Relações Exteriores no Brasil.

As críticas contra as autoridades brasileiras aumentaram depois da suspensão da plataforma X, em agosto. Rubio chegou a mencionar Lula ao dizer que a decisão, sob o seu governo, levantava “sérias preocupações sobre a liberdade de expressão”. “É a mais recente manobra do juiz Alexandre de Moraes para minar as liberdades básicas. O Brasil deve retificar esse movimento autoritário”, escreveu.

Essa não foi a primeira desavença com a gestão petista. O americano já havia manifestado contrariedade à política externa brasileira, em especial em relação aos diálogos que Lula manteve com o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, e à aproximação com Pequim. Ao mesmo tempo, adotou tom elogioso à família Bolsonaro e chegou a posar para foto ao lado do ex-presidente e de seu filho 03, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Formado em ciências políticas e direito, Rubio foi eleito para a Câmara dos Representantes em 1999, pelo Partido Republicano, e logo ganhou notoriedade com sua abordagem contra o que chama de “tiranias latino-americanas” —ele foi escolhido presidente da Casa de 2006 a 2008. No Congresso, é um dos defensores mais enfáticos de sanções contra Cuba e Venezuela. Também diz considerar a China a maior ameaça à supremacia dos EUA e critica um suposto aumento da influência de Pequim sobre o seu país.

Já senador, cargo para o qual foi eleito para o primeiro mandato em 2010, propôs a legislação, sancionada em 2021, que proíbe a entrada nos EUA de mercadorias provenientes de Xinjiang, província chinesa na qual o regime de Xi Jinping é acusado de aprisionar e explorar a mão de obra da minoria muçulmana uigur.

Também foi um dos arquitetos da lei que dá ao governo federal mais poder para implementar medidas contra a China em resposta à erosão da autonomia de Hong Kong, ex-colônia britânica que voltou a ser controlada por Pequim em 1997. Em retaliação, foi alvo de sanções impostas pelo regime, que o acusou de “interferência flagrante” em seus assuntos internos.

Ao longo dos anos, os posicionamentos linha-dura aproximaram Rubio de Trump, e o senador foi cotado como vice na chapa do presidente eleito, mas acabou perdendo a disputa para J.D. Vance.

Mas o relacionamento entre os dois nem sempre foi amistoso. Rubio e Trump chegaram a se enfrentar nas primárias de 2016. Na ocasião, antes de declarar apoio ao líder republicano, o primeiro chegou a chamar o correligionário de fraude, vigarista e a “pessoa mais vulgar” que até então havia se candidatado à Presidência do país.

Os atritos foram superados ainda durante a primeira administração de Trump, e Rubio recebeu a alcunha de “secretário de Estado virtual para a América Latina” durante a gestão. Antes considerado intervencionista, Rubio aos poucos flexibilizou o seu discurso, alinhando-se ainda mais ao presidente eleito.

No passado, acusou Trump de abandonar os esforços militares dos EUA na Síria antes da conclusão de seus objetivos. Já no começo da Guerra da Ucrânia, chamou o presidente russo, Vladimir Putin, de assassino e recorreu às redes para pedir apoio total aos ucranianos.

Nos últimos meses, porém, passou a dizer que a Ucrânia precisa buscar “um acordo negociado” com a Rússia para encerrar o conflito. Em abril, foi 1 dos 15 senadores republicanos que votaram contra um pacote de US$ 61 bilhões em ajuda militar a Kiev.

No Oriente Médio, Rubio defende uma “estratégia de pressão máxima” contra o Irã e apoia a continuidade das guerras de Israel contra o Hamas, em Gaza, e contra o Hezbollah, no Líbano, minimizando as acusações de que as tropas de Tel Aviv atingem civis com suas ações desproporcionais. Ele comparou as ações israelenses à perseguição de Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Outra mudança foi em relação à migração. Em 2013, Rubio ajudou a impulsionar um projeto que permitia a regularização de milhares de migrantes em situação ilegal. Na campanha atual, defendeu Trump depois de o republicano dizer que essas pessoas “envenenam o sangue da nação”.

“Eu sou filho de imigrantes, exilados de um país em problemas. Eles me deram tudo o que estava ao seu alcance dar. E eu sou a prova de que suas vidas importaram, sua existência tinha um sentido”, escreveu em sua autobiografia, “An American Son” (um filho americano, em tradução livre), publicada em 2012.

A confirmação de Rubio como secretário de Estado sinalizaria, portanto, um endurecimento nas relações dos EUA com a China e com outros rivais estratégicos. Poderia representar ainda o fortalecimento das relações com países alinhados a Washington, caso da Argentina, de Javier Milei, e El Salvador, de Nayib Bulele.

Questionado sobre o futuro da diplomacia americana depois da vitória de Trump, o senador disse que os EUA estão prestes a entrar em “uma era de pragmatismo na política externa”. “O mundo está mudando rapidamente. Os adversários estão se unindo —na Coreia do Norte, Irã, China, Rússia— e se coordenando cada vez mais”, disse à emissora CNN. “Isso vai exigir muito pragmatismo e sabedoria de nossa parte em como investimos no exterior e no que fazemos.”

Renan Marra/Folhapress

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