Hospitais privados de Salvador já sofrem com a escassez de vagas para tratar o coronavírus

                                                                                     Foto: Reprodução

 

“Estamos muito próximos de ter que decidir quem entra e quem não entra (nas UTIs)”. A frase deste médico intensivista resume bem a situação dos hospitais privados de Salvador que atendem pessoas infectadas por coronavírus. Duas grandes unidades particulares da cidade, o Hospital Izabel e o Hospital da Bahia, já não recebem mais pacientes transferidos por falta de vagas.

Segundo o prefeito ACM Neto (DEM), o colapso no sistema de saúde privado é cada vez mais iminente e deve acontecer primeiro do que na rede pública. De acordo com o secretário municipal de Saúde, Leo Prates, a ocupação nesses hospitais já chega a 80%.

A direção do Hospital da Bahia informou ao A TARDE, ontem, que o local não tem mais recebido pacientes regulados. De acordo com a unidade, os 31 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para contaminados com Covid-19 estão esgotados. O hospital registra ocupação alta também nas UTIs para outras especialidades, como cardiológica, neurológica e geral.

Em relação ao Santa Izabel, a assessoria de comunicação informou que só tem recebido pacientes encaminhados pela regulação estadual, e não mais de outros hospitais. No último fim de semana, 80% dos leitos clínicos e de terapia intensiva para coronavírus estavam preenchidos.

Um profissional que trabalha no local relatou para a reportagem que, no último domingo, sete pacientes intubados chegaram a ficar esperando na emergência por falta de vaga em UTI. Com o episódio, a unidade fez expansão na estrutura, o que reduziu a ocupação para cerca de 70%. Na UTI, o hospital opera com cerca de 40 leitos.

Presidente da Associação de Hospitais e Serviços de Saúde do Estado da Bahia (Ahseb), Mauro Duran Adan afirma que a rede privada verificou um aumento substancial na quantidade de pacientes nos últimos cinco dias, o que tem pressionado o sistema. Mesmo com a constante ampliação das estruturas hospitalares, as unidades continuam flertando com o colapso diante da escalada da pandemia.

Segundo Adan, uma das principais preocupações atuais é com profissionais que possam atuar nas UTIs. Com afastamento de muitos deles por causa da contaminação e também devido a quadros suspeitos de Covid-19, os gestores devem encontrar dificuldades para encontrar médicos, já que não há grande oferta no mercado. Além desta dificuldade, aqueles que atuam na terapia intensiva precisam ter qualificação específica para a atividade, o que torna a reposição mais difícil.

“Nós temos conseguido repor com as próprias equipes que a gente tem. Mas é uma questão delicada, bastante delicada. Nós temos uma questão delicada. Trabalhamos com profissionais qualificados, em um momento de expansão grande do serviço. Temos uma limitação de quadro de pessoal. É um ponto de preocupação, pela contaminação ou afastamento por suspeita de contaminação”, revelou.

Finanças

Ainda segundo o presidente da Ahseb, outra situação que preocupa é a situação financeira do setor da saúde. Ao mesmo tempo em que houve diminuição de outros procedimentos de alta complexidade devido à pandemia, como cirurgias eletivas, cresceram os investimentos em estrutura para tratamento dos pacientes.

Além da contratação de pessoal especializado, aumentaram os gastos com equipamentos de proteção individual (EPI), já que o preço de alguns dos itens sofreu alta de até 500%, relatou Adan. “A quantidade de utilização aumentou muito de gorros, máscaras, óculos, aventais. Agora, todo mundo utiliza, não só a equipe de saúde”, afirmou.

Quem preocupa também são as unidades de saúde ambulatoriais, como laboratórios e clínicas, que têm visto redução de até 50% no atendimento porque pacientes têm evitado ter atendimento com receio de contaminação. Por enquanto, demissões em massa no setor ainda não aconteceram, mas não estão descartadas caso a situação piore, segundo o presidente da Ahseb.

Ele reivindicou medidas do governo federal, como linhas de crédito, e paralisação do pagamento de tributos municipais, como o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) como forma de ajudar os estabelecimentos de saúde privada.

“Todo dia eu choro”

A reportagem conversou com três médicos que trabalham em cinco dos maiores hospitais particulares da cidade: Hospital da Bahia, Aliança, Português, Santa Izabel e São Rafael. Eles falaram, em condição de anonimato, sobre as dificuldades que enfrentam no combate à pandemia.

Um deles que atua como intensivista cotou que o aumento da demanda vem pressionando os equipamentos hospitalares também. Como a Covid-19 tem se mostrado uma doença sistêmica, que afeta vários órgãos, alguns pacientes, que têm os rins atingidos, precisam de diálise. E, como não há máquinas em grande quantidade, o procedimento fica comprometido.

“Teve paciente que eu tive que desligar a diálise. Compensou e a gente tem que desligar. Não posso deixar o tempo que eu queria, pois preciso passar para outro”, conta. Um dos agravantes da pandemia é o tempo acima da média que os pacientes ficam internados na UTI. No caso de outras doenças, o período de hospitalização é de cerca de cinco dias. Já na Covid-19, sobe para 14 a 21 dias, reduzindo a rotatividade dos leitos e demais equipamentos, como respiradores.

De acordo com outro médico intensivista, profissionais de outras áreas estão sendo transferidos para unidades de tratamento do coronavírus como forma de auxiliar no atendimento, por causa da falta de pessoas especializadas.

“É uma quantidade muito pequena de profissionais nessa área (especializados em terapia intensiva). Você precisa ter médicos especialistas e enfermeiros especialistas. Nossa grande preocupação é a unidade de recursos humanos. Será que teremos a quantidade de profissionais necessária para encher as unidades que estão se formando?”, questionou. As informações são do jornal A Tarde.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *