O ex-policial militar Fabrício José Carlos de Queiroz foi preso na manhã de quinta-feira (18) em Atibaia, no interior de São Paulo. Queiroz é amigo pessoal do presidente Jair Bolsonaro e foi assessor parlamentar no gabinete do filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), quando este era deputado estadual no Rio de Janeiro, de 2007 a 2018.
O ex-assessor de Flávio é investigado desde maio de 2018, quando relatório produzido pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira) chegou ao MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro). O documento indicava movimentações financeiras atípicas nas contas de Fabrício Queiroz. Somavam R$ 1,2 milhão, no período de janeiro de 2016 a janeiro de 2017.
Essas movimentações seriam parte de 1 esquema de ‘rachadinha’, a prática de coagir funcionários (reais ou fantasmas) a repassarem parte de seus salários. Os valores, segundo as investigações, eram lavados por meio de operações imobiliárias, empreendimentos comerciais e até mesmo por meio do pagamento de despesas pessoais da família de Flávio Bolsonaro.
Ao pedir a prisão preventiva do ex-assessor, a Promotoria relatou que Queiroz recebeu “centenas de depósitos” (a maior parte em dinheiro em espécie) no período de abril de 2007 a dezembro de 2018. Esses depósitos somam R$ 2.039.656,52. O ex-policial teria sacado nesse mesmo período a quantia de R$ 2.967.024,31. Os investigadores não souberam precisar a origem dessa diferença de mais de R$ 900 mil.
De acordo com os dados bancários obtidos por meio da quebra de sigilo autorizada pela Justiça, Queiroz fez depósito em espécie de R$ 25.000 na conta de Fernanda Bolsonaro, mulher de Flávio Bolsonaro. A Promotoria diz que o ato mostra que ele “transferia parte dos recursos para o patrimônio familiar” do agora senador.
O MP-RJ também aponta indícios de que Fabrício Queiroz tenha pagado despesas como o plano de saúde e mensalidades escolares das filhas do casal.
A suspeita decorre da constatação de que, em 1º de outubro de 2018, foram quitadas parcelas de mensalidades escolares nos valores de R$ 3.382,27 e R$ 3.560,28. Mas nem Flávio nem Fernanda haviam feito nenhum saque compatível com esses valores nos 15 meses anteriores à data.
Para o juiz Flávio Itabaiana de Oliveira Nicolau, da 27ª Vara Criminal do Rio, Queiroz tinha “notória influência deletéria sobre as investigações“, o que justificava sua prisão. O magistrado também considerou que a mulher de Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar, “teve participação fundamental nas manobras para embaraçar as investigações“.
A casa onde Queiroz foi encontrado nesta manhã pertence ao advogado Frederick Wassef, que defende Flávio Bolsonaro e também trabalha para o presidente Jair Bolsonaro.
O juiz Flávio Itabaiana disse em sua decisão que havia “evidências de uma complexa rotina de ocultação do paradeiro do referido investigado, articulado por uma pessoa com notório poder de mando, sob o codinome ‘ANJO’”.
“Parte da rotina de ocultação do paradeiro de Fabrício Queiroz envolvia restrições em sua movimentação e em suas comunicações, sendo monitorado por uma terceira pessoa, que se reportava a 1 superior hierárquico referido como ‘Anjo’“, relatou o magistrado.
Os investigadores mencionaram haver indícios de que a família de Queiroz recebia dinheiro para sobreviver enquanto ele estava escondido. Dizem que Márcia teria recebido ao menos R$ 174 mil em espécie.
Márcia sempre desligava o aparelho celular quando ia visitar o marido em Atibaia, de acordo com o MP-RJ. Ambos “seguiam orientações do ‘Anjo’“, que em dado momento teria sugerido esconder toda a família do ex-assessor em São Paulo, conforme mostra troca de mensagens entre Queiroz e Márcia em novembro de 2019. Na ocasião, Márcia também disse que se esconderia caso fosse alvo de 1 mandado de prisão.
O juiz considerou que “ambos cogitavam fugir caso tivessem ciência de que foi decretada sua prisão preventiva“, mencionando que a defesa de Queiroz chegou a fornecer, no ano passado, o endereço de 1 hospital onde o ex-assessor não esteve internado.
Em outra troca de mensagens, Márcia chegou a comparar o marido a “1 bandido que está preso e dando ordens aqui fora“.
“[Queiroz] ainda tem influência política para, até mesmo, pleitear nomeações em cargos comissionados, chegando ao ponto de ter sido comparado por sua esposa a ‘1 bandido que tá preso dando ordens aqui fora, resolvendo tudo’“, escreveu o juiz que decretou as prisões preventivas.
Para o magistrado, isso “demonstra que ele poderia ameaçar testemunhas e outros investigados e obstaculizar a apuração dos fatos, perturbando, assim, o desenvolvimento da investigação e de futura ação penal”.
As investigações do MP-RJ também indicam relação de Queiroz com milicianos. Foi apontado elo entre o ex-assessor e Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Bope apontado como chefe da milícia de Rio das Pedras, na zona oeste da capital fluminense, e do chamado “Escritório do Crime”.
Morto em fevereiro, Adriano, teve parentes contratados no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj por intermédio de Queiroz. De acordo com as investigações, o ex-assessor teria recebido R$ 400 mil de empresas ligadas a Adriano.
A possível relação de Queiroz com a milícia também é destacada em outro ponto da investigação. Em troca de mensagens ocorrida em 14 de dezembro de 2019, a mulher de Queiroz diz ao marido que 1 interlocutor pediu sua ajuda pois estava recebendo ameaças de milicianos de Itanhangá, bairro da zona oeste do Rio.
Queiroz disse que prestaria essa ajuda pessoalmente. Para o juiz que decretou sua prisão, essa resposta teria “demonstrado sua periculosidade por ainda manter influência sobre o grupo criminoso”. As informações são do site Poder 360.