Estupidez, diz líder chavista sobre ideia do governo Lula de nova eleição na Venezuela

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“É uma estupidez”, afirmou o número 2 do chavismo, Diosdado Cabello, sobre a ideia ventilada por Celso Amorim para uma nova eleição na Venezuela como maneira de atenuar a crise que atravessa o país após a contestada reeleição de Nicolás Maduro.

“Não vamos repetir eleições coisa nenhuma”, disse o vice-presidente do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), a legenda que controla o Estado venezuelano e tem Maduro na liderança. “Um segundo turno? Na Venezuela não há segundo turno. Senhores… Não se metam nos assuntos internos da Venezuela que vamos respondê-los.”

Cabello falava no final desta quarta-feira (14) durante seu programa em rede nacional, o El Mazo Dando (batendo com o porrete). A referência ao Brasil veio após ele ler uma publicação na rede social X (a mesma que Maduro quer bloquear no país) crítica às falas de Amorim.

Deputado, ele é um dos nomes mais poderosos do chavismo e o número 2 do regime, ainda que a vice de Maduro seja Delcy Rodríguez. Representou o ditador em diversos atos da campanha eleitoral e atua como uma máquina de propaganda na TV e nas redes sociais.

“Diante das direitas que não são democráticas, é preciso evitar de alimentá-las. Está escutando, Celso Amorim?”, seguiu o chavista, peça fundamental da campanha de Maduro e um dos mais radicais das fileiras. “Para nós isso é uma estupidez. Aqui não se vão repetir as eleições porque quem ganhou foi Nicolás Maduro.”

Assessor do presidente Lula (PT) para temas de política externa, o ex-chanceler Celso Amorim tem ventilado a ideia de uma nova eleição na Venezuela como uma proposta embrionária, em suas palavras, a ser levada para a mesa de negociação que Brasil e Colômbia tentam, sem nenhum horizonte, formar entre o regime e a oposição.

O próprio Lula tem ecoado a mensagem, como o fez nesta quinta-feira (15) ao dizer que um governo de coalizão ou novas eleições poderiam ser saídas possíveis para a Venezuela, mergulhada em mais uma crise que preocupa a comunidade global.

Também nesta quinta-feira, Amorim voltou a falar do tema e, em depoimento no Senado, questionou a resistência à realização de novas eleições para resolver a crise na Venezuela, argumentando que os atores que se declararam vencedores certamente “ganhariam de novo”. Disse que a proposta não é de sua autoria, mas é uma das ventiladas, e que novas eleições exigiriam, claro, “um novo sistema de vigilância”.

As falas do ex-embaixador têm caído mal para regime e oposição. Entre muitos na Venezuela, Amorim é visto como um dos interlocutores do Brasil com maior entrada para dialogar com o chavismo. Já no primeiro ano de governo Lula 3 ele era o enviado para se reunir com Maduro e entender os planos que, àquela época, havia para eleições.

Posteriormente, foi também o enviado para acompanhar as eleições do último 28 de julho in loco na capital venezuelana. Celso Amorim teve conversas com líderes do chavismo e com Maduro, com o candidato opositor Edmundo González e com organizações independentes, como o painel de especialistas da ONU que afirmou que o pleito na Venezuela não atendeu a condições básicas para ter credibilidade.

Mas a suposta boa relação entre Brasília e Caracas não deixou de colher rusgas e comentários ácidos dos chavistas. Além da recente alfinetada de Cabello a Celso Amorim, na semana pré-eleitoral o próprio Maduro insinuou que líderes que se diziam preocupados com o cenário em seu país deveriam tomar chá de camomila. Um dia antes Lula havia manifestado preocupação com a postura de Maduro.

A ideia de novas eleições, que reservadamente figuras do Itamaraty dizem que não é uma prioridade nas tratativas feitas com a Colômbia, também desagrada, por óbvio, a oposição. A líder opositora María Corina Machado mais de uma vez mencionou que não há chance de seu grupo aceitar a proposta.

A oposição afirma ter vencido com mais de 60% dos votos, computados em uma contagem paralela com base nas atas eleitorais que coletou junto às suas testemunhas nas mesas de votação. O órgão eleitoral da Venezuela, por sua vez, afirma que Nicolás Maduro foi eleito com aproximadamente 52% dos votos, mas até aqui não compartilhou nenhum detalhamento da votação e tampouco tornou públicas as atas.

Amorim virou chacota no principal site humorístico venezuelano crítico ao chavismo. Em uma publicação na quarta, o El Chiguire Bipolar escreveu: “Brasil propõe repetir eleições até que Maduro ganhe”.

“Celso Amorim dirigiu-se ao mundo em uma entrevista coletiva para pedir um resultado mais justo para os venezuelanos: ‘Irmãos venezuelanos, basta de tantos confrontos, faço um chamado aos manifestantes para que deixem de protestar contra a Guarda Nacional. Lula e eu acreditamos fortemente que o melhor é que se repitam as eleições e melhor ainda que ele [Maduro] ganhe”, ironiza a publicação.

Mayara Paixão, Folhapress

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