Ataques golpistas do 8 de Janeiro completam um ano com fortes marcas à democracia

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Há um ano, o 8 de janeiro deixou de ser uma data qualquer no calendário e entrou para os marcos da história brasileira. No início de 2023, dias após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), centenas de pessoas vestidas de verde e amarelo invadiram a praça dos Três Poderes, em Brasília, alegando uma fraude nas urnas e pedindo que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) retornasse ao poder. Ali, os novos rumos da democracia do país foram traçados.

Os danos que envolveram destruição de peças históricas-artísticas, cadeiras, móveis, telas, tapeçarias, custaram mais de R$ 16 milhões aos cofres públicos, segundo dados divulgados pela Secretaria de Comunicação Social, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. Já os custos para a democracia ainda são inestimáveis.

O atos golpistas renderam diversos desdobramentos na Justiça, com intervenção federal, afastamento do governador do Distrito Federal (DF), prisões da cúpula da Polícia Militar do DF e até do ex-ministro da Justiça e secretário de Segurança Pública do DF, demissão de comandante do Exército, criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), além de 1.430 presos, sendo 67 baianos. Ao todo, 30 já foram condenados, com penas de 3 a 17 anos de prisão. Apesar das medidas, um ano depois, nenhum mandante foi identificado e punido.

Para a jornalista Cristina Serra, existe uma urgência em punir quem fomentou a tentativa golpista, para que a democracia brasileira possa se manter firme nas instituições do país. “Nós vimos punições, condenações, aos ‘bois de piranha’, aquelas pessoas que estavam lá depredando os prédios, mas a gente precisa sim chegar aos mandantes. Enquanto o Brasil, as instituições e os governos, se não formos capazes como sociedade de enfrentar esse golpismo renitente em setores significativos das forças armadas, nós estaremos sempre enxugando gelo”, disse no programa Três Pontos, da Rádio Metropole.

Os ataques do 8 de Janeiro representaram uma série de indícios do fortalecimento das ideologias antidemocráticas e de extrema direita no país – que não pararam por aí. O ano de 2023, por exemplo, foi marcado por manifestações que chegavam a pedir o retorno da Ditadura Militar. Um levantamento realizado pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) mostra que foram registradas 1.666 manifestações entre novembro de 2022 e o dia 8 de janeiro de 2023.

Em entrevista à Rádio Metropole, o professor de literatura, escritor, pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e cientista do estado do Rio de Janeiro, João Cezar Rocha, explicou que a invenção de crenças infundadas, como as de que as urnas haviam sido fraudadas, são um forte braço desse tipo de movimento. “A extrema direita faz com grande eficácia no mundo inteiro a criação de narrativas, que são sempre radicalmente polarizadoras, cuja finalidade é produzir medo, esse medo tem como reação a produção do ódio, onde o mundo é dividido entre os meus e os outros”, ponderou.

Uma pesquisa da Quaest divulgada neste domingo (7) revelou que 76% dos eleitores de Lula acreditam que Jair Bolsonaro teve algum tipo de influência nos ataques, enquanto apenas 13% dos eleitores do ex-presidente compartilham do mesmo pensamento. Na CPI do Congresso, o relatório final aprovado pela comissão pediu o indiciamento do ex-presidente por quatro crimes e o considerou “autor, seja intelectual, seja moral” dos ataques. Na avaliação do historiador político, Carlos Zacarias, essa clara polarização de opiniões é um dos pilares do espírito que embasou a invasão aos Três Poderes.

“Não parece que as coisas mudaram, o Brasil permanece dividido, uma parte das pessoas acreditando que as urnas foram fraudadas. Ainda que esse movimento não seja tão visível, nos subterrâneos da política a gente percebe”, disse ao Metro1.

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