Articulação por reforma tributária cacifa Tarcísio para 2026 ao opor governador a Bolsonaro

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Esperada por mais de 30 anos, a aprovação da reforma tributária se consolidou no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas dependeu da participação ativa do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) nas negociações para convencer os parlamentares a acatarem o texto.

Acampado em Brasília por uma semana, o chefe do Executivo paulista ganhou status de fiel da balança e saiu vitorioso ao se opor diretamente a Jair Bolsonaro, seu padrinho político. O movimento foi visto com bons olhos por setores do centro político, mas criticado por bolsonaristas, que enxergaram um Tarcísio tentando ocupar o vácuo de poder deixado por um Bolsonaro inelegível.

A queda de braço entre o governador, para quem o País não poderia deixar a reforma “escorrer pelos dedos”, e o ex-presidente, que orientou a bancada do PL a votar contra o texto, criou dissidências no partido. Pela primeira vez, os dois políticos divergiram publicamente. Tarcísio conseguiu que 20 parlamentares do PL votassem com ele e contra o ex-presidente.

No diagnóstico de aliados de Tarcísio, ele aproveitou a vitrine para mostrar capacidade de articulação e ganhar mais espaço no campo da direita para disputa presidencial em 2026 no momento em que Bolsonaro foi retirado do jogo político por decisão da Justiça Eleitoral. Tarcísio capturou uma agenda da centro direita, pró-reforma tributária, enquanto que Bolsonaro voltou seu discurso para a extrema direita, segurando assim seu eleitor mais fiel.

Deputados bolsonaristas radicais não mediram críticas ao governador, que foi também atacado em grupos de extrema-direita no WhatsApp.

Negociações

A atuação de Tarcísio rendeu a ele mensagens de agradecimento de figuras carimbadas da esquerda, como o ministro Fernando Haddad (PT) e o deputado federal André Janones (Avante).

O principal argumento do governador era o de que a direita não pode deixar de discutir uma reforma tributária e passar a imagem de que trabalhou contra o País. “Se o Brasil der errado não é porque a direita boicotou”, resume um formulador da direita.

Para conquistar o apoio dos parlamentares, Tarcísio recebeu mais de uma vez a bancada paulista no Palácio dos Bandeirantes para apresentar sua opinião sobre o tema. Na terça-feira, 4, praticamente se mudou para Brasília para articular alterações que ele chamou de “divergências ajustáveis” no texto.

Em suas passagens pela Câmara dos Deputados, o tamanho do séquito que o rondava serviu de medida para a relevância do governador nos corredores do Parlamento. Ali quem está em baixa circula sozinho, quase imperceptível. Já quem anda dando as cartas é alvo de assédio constante. E Tarcísio andou pela Câmara sempre cercado. Por políticos, câmeras e microfones.

A postura contradiz com a de Bolsonaro, que já não consegue reunir três pessoas ao seu redor. No mesmo dia da votação, o ex-presidente chamou de “soco no estômago dos mais pobres”. E pregou: “Com tantas insanidades, a PEC merece um só destino: o arquivo da Câmara”. No começo da semana, já havia recomendado aos deputados do PL, partido do qual é presidente de honra, para rejeitarem a proposta.

O atrito atingiu seu nível máximo durante reunião do PL sobre o tema. Tarcísio foi interrompido diversas vezes por parlamentares como Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP) e pelo próprio Bolsonaro. O governador, que tentava argumentar pela reforma, ouviu reclamações, mas também foi aplaudido. O ex-presidente foi direto e se disse “chateado” com o afilhado político.

Representante da direita brasileira

Após Tarcísio deixar a reunião, o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) disse que o governador não representa a direita brasileira e faz uma gestão em São Paulo que não segue os princípios deste espectro político. “Ser de direita não é um discurso, é uma conduta. Se tem um lugar no Brasil que não tem um governo de direita, é o governo de São Paulo”, afirmou.

No Twitter, Salles e o deputado Eduardo Bolsonaro ironizaram a fala de Tarcísio ao lado de Haddad. “Não sou 95%, sou 100% contra a reforma tributária do PT”, escreveu o filho do presidente, da ala radical.

As reclamações foram ecoadas em aplicativos de trocas de mensagens. Em grupos bolsonaristas, usuários das redes sociais disseram que Tarcísio “nunca foi de direita”, que o governador “traiu Bolsonaro” e o chamaram de “tucano 2.0″.

Mas levantamento da Quaest mostrou que, nas redes sociais, Tarcísio dividiu sentimentos e ficou com 49% de citações positivas ante 51% de citações negativas, enquanto Bolsonaro saiu como o grande derrotado, com 71% de menções negativas.

No grupo mais de centro-direita o acordo é tratar Bolsonaro como “pessoa física” e ignora-lo como “pessoa jurídica”. Ou seja: ele segue tendo o respeito do grupo, mas suas opiniões não serão observadas. “Uma coisa é ser de extrema direita e outra é ser de centro-direita. A centro-direita não pode ficar contra uma reforma que simplifica impostos”, disse um membro da cúpula do PL.

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