Na mira do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Superior Tribunal Eleitoral) por contestar a eleição, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) agora levanta a bandeira branca ao ministro Alexandre de Moraes.
Zambelli, fiel escudeira do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), diz que ele deveria ter sido claro ao pedir o fim de atos nos quartéis e deveria estar no Brasil para liderar a oposição —e que os discursos da direita podem, sim, ter levado às cenas de 8 de janeiro.
“Depois do dia 8, estou sendo bem mais cuidadosa para não ter mais pessoas se enganando. A gente está em outro patamar, agora não é hora de bater no STF”, diz. Para ela, o foco da oposição deve ser o presidente Lula (PT).
O TSE suspendeu as redes da deputada em 1º de novembro. Moraes as devolveu neste mês, mas manteve multa de R$ 20 mil se houver publicações contra a democracia.
Na sexta (17), o STF rejeitou recurso da deputada e manteve seu porte de armas suspenso —a ação é decorrente do episódio na véspera do segundo turno, quando Zambelli apontou uma pistola para um homem com quem discutiu nos Jardins, em São Paulo. Ela foi denunciada por porte ilegal.
Terceira em número de votos, com 946.244 eleitores, atrás de Nikolas Ferreira (PL-MG) e Guilherme Boulos (PSOL-SP) e à frente de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Zambelli falou à Folha de um spa medicinal onde passou o fim de semana tratando uma crise de fibromialgia.
Em 2018, a sra. teve 73,6 mil votos. O que explica seu salto, sendo que outros bolsonaristas não tiveram sucesso? “Em 2018, eu não era conhecida, o movimento Nas Ruas era. Agora, é uma junção da popularidade do meu nome à fidelidade que as pessoas encontraram em mim junto a Bolsonaro.
O que levou à derrota na eleição presidencial? Encontrei algumas poucas pessoas que diziam: vou votar em você, mas não no Bolsonaro, a senhora é mais light na hora de falar. Muito do julgamento foi pela forma de ele falar e menos pelo que ele fez, porque as pessoas aprovam o que ele fez.
A falsa tese de fraude nas urnas ainda ecoa? Não posso responder ou vou ter que pagar R$ 20 mil de multa.
Pode responder se isso é algo que escuta dos seus eleitores? O tempo todo. Hoje, no spa medicinal, vieram tirar foto comigo umas 40 pessoas, sendo que 30 questionaram o resultado. Mas não posso falar, até porque acho que está pacificado, agora é lutar de outra maneira.
Qual deve ser o foco da oposição? Já está superada a questão das urnas por nós parlamentares. Se ainda tem algo a ser feito, talvez seja voltar a falar sobre voto impresso.
Tenho dito que, como deputada, minha briga não pode ser a mesma da legislatura passada. Eu tinha o papel de defender Bolsonaro e o governo, qualquer um que os atacasse tinha que virar um alvo meu. Nesta legislatura, Bolsonaro não é mais presidente, então nosso alvo tem que ser Lula, seus feitos e desfeitos.
Bolsonaro disse que o governo Lula não vai durar, e a sra. já falou em impeachment. É uma possibilidade? Sim, Lula tem errado bastante. O impeachment precisa de um crime e de aderência política. Ele já cometeu crime de responsabilidade. Por exemplo, não ter feito a licitação dos móveis no Alvorada. Mas não é um crime tão popular. Porém acredito que logo ele vai cometer. O Congresso vai perceber que ele não está fazendo o que prometeu. A economia vai começar a dar errado, e ele vai ficar impopular.
Na eleição, a direita falava em conquistar o Senado e promover o impeachment de Moraes. Isso deve ser feito? Não. Bolsonaro não ganhando, a gente tem que virar a chave. Qualquer impeachment no STF, o substituto vai ser indicado por Lula. Pode entrar uma pessoa que faça as maldades do Alexandre de Moraes parecerem uma criança chupando picolé.
O Metrópoles publicou que a sra. procurou o gabinete de Moraes com a intenção de distensionar a relação. Liguei e mandei um email. Alguns dias depois, minha rede foi devolvida, pode ter sido um gesto. Estou à disposição dele para conversar. Porque ele vai ser um alvo do PT daqui a pouco. O PT não vai se contentar em indicar somente os dois ministros que vão se aposentar.
Quando disse que quem atacasse Bolsonaro era seu alvo, estava falando do STF? Não só dele. Eu ataquei muito o STF para proteger o [ex-]presidente.