No dia 7 de abril de 2021, o presidente Jair Bolsonaro (PL) viajou a Foz do Iguaçu para prestigiar a solenidade de despedida do general Joaquim Silva e Luna do comando da Itaipu. Convocado pelo presidente no dia 19 de fevereiro para a “missão” de presidir a Petrobras, o general foi aplaudido de pé após discurso em que descreveu sua própria gestão como um exemplo de austeridade fiscal.
Menos de um ano depois, Silva e Luna é demitido da presidência da Petrobras sem sequer ter sido informado do avanço de negociações que antecederam o anúncio de seu sucessor, Adriano Pires. O general, dizem aliados, deixa o cargo mal falando com Bolsonaro, por quem se sente desrespeitado.
O militar se queixa de traição. Segundo interlocutores, o general — que meses antes mantinha contato direto com o presidente — foi informado apenas no dia da demissão que o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, havia se reunido diversas vezes com seu sucessor, inclusive no último domingo, para discutir sua exoneração.
Em uma reunião descrita como fria, Bento Albuquerque informou Silva e Luna sobre sua demissão, relatando a série de encontros que mantivera com o novo presidente da Petrobras. A audiência em que Silva e Luna foi informado de sua exoneração aconteceu apenas três horas antes de a decisão de Bolsonaro ser publicamente anunciada.
A relação entre Bolsonaro e o general vinha se desgastando desde janeiro, com o aumento sucessivo do preço dos combustíveis. A Folha apurou que Silva e Luna ficou particularmente magoado em fevereiro, quando Bolsonaro cobrou que o general fizesse jus ao salário, apresentando solução para o preço das gasolina.
“O diretor ganha R$ 110 mil por mês. O presidente mais de R$ 200 mil por mês e, no final do ano, ainda tem alguns salários de bonificação. Os caras têm que trabalhar! Têm que apresentar a solução e mostrar o que está acontecendo. ‘Ah, a gasolina está alta.’ Cai no meu colo. Eu não tenho como interferir na Petrobras, mas cai no meu colo”, disse Bolsonaro.
Catia Seabra e Nicola Pamplona/Folhapress