Integrantes do governo Lula (PT) e aliados de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) iniciaram conversas sobre a possibilidade de o parlamentar assumir um ministério após deixar a presidência do Senado, em fevereiro de 2025.
Uma eventual ida de Pacheco para a Esplanada dos Ministérios seria uma maneira de integrar ao governo um político de destaque, reforçar os laços do Palácio do Planalto com um grupo que tem boas chances de permanecer no comando da Casa e manter o parlamentar em evidência após sua passagem pelo comando do Congresso.
A avaliação envolveria ainda o fortalecimento de uma possível candidatura de Pacheco ao Governo de Minas Gerais, em 2026, com o apoio de Lula.
A hipótese da entrada de Pacheco no governo foi levada por um senador à mesa de Lula em meados de abril. Semanas depois, o petista fez uma referência indireta a essa possibilidade numa conversa com o próprio presidente do Senado no Palácio da Alvorada.
Três fontes relataram ter conhecimento das conversas. Embora o tema já tenha sido levado ao presidente, no entanto, auxiliares de Lula afirmam que as discussões ainda são preliminares e não há acordo firmado.
O senador, por sua vez, afirma que a discussão não foi levada a ele. “Não há cogitação da minha parte. Meu compromisso é com o mandato no Senado para trabalhar pelo meu estado e por temas nacionais”, diz Pacheco.
Um político com acesso ao gabinete presidencial contou à Folha que citou a possibilidade da entrada de Pacheco no governo durante uma conversa reservada com Lula, em abril.
Esse mesmo interlocutor afirmou que, semanas depois, no dia 2 de maio, o petista tangenciou o tema na reunião que teve com o presidente do Senado. Segundo o relato, confirmado por uma testemunha, Lula teria dito a Pacheco que ele deveria refletir sobre o que fazer após deixar o comando da Casa.
Alguns aliados do presidente do Senado defendem sua ida para o governo para contornar o que seria um esvaziamento natural de poder dos chefes do Legislativo ao fim de seus mandatos no comando do Congresso —tradicionalmente descrito pelos políticos como um “retorno à planície”.
Em 1º de fevereiro, Pacheco apoiará a eleição de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) para o comando do Senado, encerrando um ciclo de quatro anos como presidente da Casa e voltando a ser 1 entre os 81 integrantes do plenário.
As conversas para que Pacheco integre o governo começaram num momento em que auxiliares de Lula questionavam a lealdade do senador. Entre os motivos, estavam o patrocínio do parlamentar à chamada PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do Quinquênio, que daria benefícios a diversas carreiras e teria um impacto de R$ 42 bilhões no Orçamento.
O senador também despertou receio entre petistas por ter comandado a votação de medidas que contrariam o STF (Supremo Tribunal Federal), sob pressão de parlamentares de direita que travam uma disputa aberta com a corte.
Apesar das ressalvas, Lula fez exibições de proximidade com Pacheco e voltou a sinalizar que cogita uma aliança com o senador caso ele decida disputar o governo de Minas Gerais. De acordo com pessoas que ouviram os comentários do petista, o presidente do Senado apenas sorriu quando o presidente mencionou a possível candidatura.
Pacheco poderia disputar essa eleição como candidato apoiado por Lula caso o presidente tenha uma boa avaliação no estado em 2026. Nesta situação, segundo aliados, a participação no primeiro escalão do governo fortaleceria a dobradinha.
Caso o petista esteja em apuros, a parceria deixaria de fazer sentido. Pacheco poderia disputar o governo em voo solo, tentar a reeleição no Senado, um retorno à Câmara ou, como afirmou num jantar no dia 6 de maio, até abandonar a política.
Mesmo que Pacheco não bata o martelo sobre uma eventual candidatura ao governo, auxiliares de Lula enxergam uma eventual entrada na Esplanada como um movimento importante para manter pontes com o Senado e com o grupo político de Pacheco e Alcolumbre.
Como as conversas estão em fase inicial, não há discussões aprofundadas sobre os cargos que poderiam abrigar Pacheco. Ainda assim, o posto mais citado pelos políticos que têm conhecimento das conversas seria o Ministério da Justiça.
Aliados de Lula avaliam, neste momento, que a probabilidade de mudanças na pasta é baixa. O titular do Ministério da Justiça, Ricardo Lewandowski, é um nome próximo do presidente, abandonou contratos na iniciativa privada para se juntar ao governo a convite do petista e está há poucos meses no cargo.
A ida de Pacheco para essa ou outra pasta de relevo dependeria das circunstâncias políticas em que o governo estará em 2025. Esse fator determinará se Lula fará uma reforma ministerial ampla ou restrita e se mudará o tamanho do feudo de cada partido na Esplanada.
A menção ao Ministério da Justiça se dá não apenas pela formação de Pacheco, que atuava como advogado criminalista antes de iniciar sua carreira política, mas também porque ele já manifestou desejo pela função no passado.
Em 2017, Pacheco buscou apoio para assumir o Ministério da Justiça do governo de Michel Temer (MDB), na vaga aberta após a indicação do então titular, Alexandre de Moraes, para o STF.
Temer, porém, escolheu outro nome do MDB: o deputado Osmar Serraglio (PR). Ele ficou menos de três meses no cargo, sendo substituído pelo advogado Torquato Jardim.
Um integrante do Palácio do Planalto mencionou que, na hipótese de uma reforma mais restrita, o presidente poderia oferecer a Pacheco uma das três pastas atualmente ocupadas por seu partido, o PSD. O Ministério da Agricultura, hoje comandado pelo senador Carlos Fávaro (MT), seria uma possibilidade. As outras duas são Pesca e Minas e Energia.
Em outras ocasiões, o grupo político de Pacheco também sinalizou o interesse do senador de buscar a indicação para uma vaga no STF caso algum ministro decida antecipar sua aposentadoria ainda neste mandato de Lula. Auxiliares do petista afirmam que, atualmente, esse cenário não está no radar.
Um quadro semelhante ao de Pacheco já circulou pelos corredores do Congresso e chegou ao Palácio do Planalto ainda no ano passado. Trata-se da possibilidade de nomeação de Arthur Lira (PP-AL) para um cargo no primeiro escalão do governo depois que ele deixar a presidência da Câmara.
Seria uma forma de reforçar o vínculo do governo com os partidos do centrão, aproveitar a influência de Lira no plenário e oferecer ao deputado ferramentas para uma campanha ao Senado em Alagoas. A hipótese não foi abandonada, mas não avançou, uma vez que a relação do parlamentar com o governo é permeada por desconfiança.
Bruno Boghossian, Folhapress