Lira empregou irmão e mulher de assessor investigado pela PF em estatal

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No último dia 2, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), exonerou o assessor da liderança do PP na Casa, Luciano Cavalcante, investigado pela Polícia Federal num suposto esquema de compra de kits robótica com verbas do orçamento secreto.

A proximidade de Cavalcante com Lira, no entanto, não se resume ao cargo que ele ocupava no Legislativo em Brasília. Parentes dele foram empregados na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), uma estatal com recursos milionários, cujos cargos de direção estão sob o domínio político de Lira, que tem outros aliados no comando da instituição.

Só no ano passado, a CBTU em Maceió movimentou R$ 23 milhões em recursos federais. A superintendência do órgão na capital de Alagoas é chefiada por Carlos Jorge Ferreira Cavalcante, irmão de Luciano. Carlito, como o superintendente é chamado, recebe salário de R$ 19.487,36. Ele chegou ao cargo com as bênçãos de Arthur Lira e do pai do deputado, o atual prefeito de Barra de São Miguel, Benedito de Lira, o Biu.

Já a mulher de Luciano, Glaucia Maria de Vasconcelos Cavalcante, ganhou o cargo de gerente regional de Planejamento e Engenharia do órgão, e recebe um salário de R$ 13.313,10.

Nas redes sociais, Carlito trata Lira e Biu como ídolos. Ele fez campanha para os dois ao menos nas últimas três campanhas eleitorais. O superintendente aparece ao lado do presidente da Câmara em comícios e outros eventos partidários. O apadrinhado de Lira esteve com o parlamentar em Brasília para comemorar as duas vitórias do chefe para a presidência da Câmara, em 2021 e neste ano.

A família de Luciano Cavalcante atua como um exército de cabos eleitorais de Lira especialmente no município de Atalaia, cidade de 47 mil moradores, na região metropolitana de Maceió. Como o próprio superintendente escreveu nas redes, Lira é o deputado federal responsável por 90% dos recursos enviados para Atalaia.

Porteira fechada

A CBTU é um órgão federal que cuida da administração de trens urbanos em cinco capitais do País, com orçamento de R$ 1,3 bilhão. O diretor presidente da companhia, José Marques de Lima, chefe da estatal a nível nacional, também é ungido de Lira e está no cargo desde julho de 2016. Atualmente, recebe um salário de R$ 25.705,66. Lima permanece no posto há sete anos, passando ileso pelos governos de Michel Temer, Jair Bolsonaro, e Luiz Inácio Lula da Silva.

Ainda em Maceió, a superintendência do órgão abriga André Marcelino Viana Silva, que também trabalhou com Lira na Câmara. Ele é o coordenador operacional de Planejamento do órgão. Até uma das primas do deputado, Orleanes Lira, faz parte do quadro de comissionados da estatal. Orleanes atua como gerente da companhia e cuida das finanças da superintendência. Tem um salário de R$ 13.313,10 por mês.

A Companhia atualmente está vinculada ao Ministério das Cidades. Durante o governo Bolsonaro, a CBTU foi transferida para o Ministério do Desenvolvimento Regional, pasta que foi irrigada por bilhões do orçamento secreto. Em 2022, o órgão controlado por Lira recebeu (empenhado) R$ 261 milhões do mecanismo para aplicar no “funcionamento dos sistemas de transporte ferroviário urbano de passageiros”.

Alvo da PF

Luciano Cavalcante virou alvo da Polícia Federal nas investigações que apuram irregularidades na compra de kits de robótica pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Ao deflagrar a operação, a PF bateu em endereços do ex-assessor de Lira para fazer ações de busca e apreensão com mandado judicial.

Lira já fez chegar ao governo que a ação da PF poderia estar contaminada politicamente. Ele considera que seu adversário, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), é o responsável por tentar envolvê-lo no caso. Lira já declarou publicamente que não tem relação com qualquer irregularidade ligada à compra de kits de robótica pelo FNDE. Como mostrou o Estadão, o presidente da Câmara direcionou recursos do orçamento da União para cidades alagoanas que acabaram utilizando o dinheiro para a compra dos kits investigados pela PF.

Procurados, Lira e a CBTU não se manifestaram.

Daniel Weterman e Julia Affonso/Estadão Conteúdo

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