O Itamaraty enviou uma carta à The Economist para rebater afirmações da revista de que Lula está perdendo influência no exterior e é cada vez “menos popular” no Brasil.
A publicação afirma que o presidente brasileiro seria “cada vez mais hostil” ao Ocidente por não se alinhar ao posicionamento de potências que apoiaram o ataque dos EUA a instalações nucleares do Irã.
O petista também não endossou o posicionamento de países ocidentais que disseram que Israel, que primeiro atacou a nação persa, “tinha o direito de se defender e garantir sua segurança”.
Pelo contrário. Lula expressou “grave preocupação com a escalada militar no Oriente Médio” e condenou os ataques de EUA e Israel “contra instalações nucleares, em violação à soberania do Irã e do direito internacional”.
Com isso, Lula teria, segundo a revista, atuado em “desacordo com todas as outras democracias ocidentais, que ou apoiaram os ataques, ou apenas expressaram preocupação”.
Na carta, o chanceler Mauro Vieira afirma que “para humanistas de todo o mundo, incluindo políticos, líderes empresariais, acadêmicos e defensores dos direitos humanos, o respeito à autoridade moral de Lula é indiscutível”.
O chanceler afirma ainda que Lula “não é popular entre negacionistas climáticos. Em face de uma nova corrida armamentista, ele está entre os líderes que denunciam a irracionalidade de investir na destruição, em detrimento da luta contra a fome e do aquecimento global”.
“Nossa condenação [aos ataques ao Irã] responde ao fato elementar de que essas ações constituem uma flagrante transgressão da Carta da ONU. Ferem, em particular, as normas da Agência Internacional de Energia Atômica, organização responsável por prevenir contaminação radioativa e desastres ambientais de larga escala”, segue o texto.
A carta foi entregue nesta madrugada por meio da embaixada do Brasil em Londres.
As normas visam impedir ataques a instalações nucleares pela “óbvia” preocupação com vazamentos radioativos e desastres ambientais decorrentes de ataques militares a instalações nucleares.
Um diplomata afirmou à coluna que a visão do governo brasileiro é a de que democracias ocidentais não são infalíveis, e já recorreram a dois pesos e duas medidas em situações semelhantes no passado.
O Brasil não teria motivos, portanto, para incorrer em erro quando sabe que os ataques dos EUA “ferem frontalmente” o direito internacional.
O Brasil não hesitaria também em condenar o que está acontecendo em Gaza e na Cisjordânia, ao contrário de outras nações.
Na reportagem, a The Economist afirmou ainda que a aproximação do Brasil com o Irã ficará mais explícita na Cúpula do Brics, marcada para a próxima semana no Rio de Janeiro. Lembre que a organização sofre forte influência da China.
“O papel do Brasil no centro de um Brics expandido e dominado por um regime mais autoritário faz parte da política externa cada vez mais incoerente de Lula”, afirma a revista, pontuando ainda que o petista nunca fez esforço para se encontrar com Donald Trump na Casa Branca.
O chanceler brasileiro afirma que o posicionamento de Lula expressa “a coerência da política externa brasileira”, e do próprio presidente, em defesa da Carta da ONU, das Convenções de Genebra e do direito internacional como um todo.
Lembra ainda que Lula condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia e ressalta o papel do Brics como voz “relevante” em defesa da construção de um mundo multipolar, “mais pacífico e menos assimétrico”.
Mônica Bergamo/Folhapress