O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou em Davos nesta quinta (26) que a inflação no Brasil já está no pico, embora não tenha dito que começará a cair já.
O IPCA-15, espécie de prévia da inflação ao consumidor oficial, acumula em 12 meses avanço de 12,30%, e economistas preveem que o patamar de dois dígitos só comece a ceder em outubro.
“A inflação já chegou no pico. E vai voltar antes do que a deles”, afirmou Guedes sobre os países europeus e os Estados Unidos. “Vai subir no mundo inteiro por muito tempo, dez, 15 anos. Mas não no Brasil. Lá fora.”
O ministro está no balneário alpino para participar do encontro anual do Fórum Econômico Mundial, que terminou nesta quinta-feira sob a sombra de uma nova crise econômica global detonada pela Guerra da Ucrânia.
Durante sua participação, em quatro dias, Guedes demonstrou otimismo e buscou promover o Brasil como um país onde a casa já estaria arrumada em termos fiscais e monetário para possibilitar crescimento, enquanto boa parte do mundo antevê uma recessão.
Apesar do cenário externo desfavorável, Guedes diz apostar na dinâmica interna de crescimento do país para puxar a recuperação. Questionado sobre o fato de a inflação frear o consumo, o ministro respondeu que “tem sempre gente” que está ganhando e “inflação não impede o crescimento”.
“É claro que ela é ruim para o crescimento. Ela tem efeitos redistributivos perversos. Mas já estamos combatendo. Tiramos os estímulos fiscais. O crescimento podia ter sido maior no ano passado, mas nós contivemos.”
Para Guedes, o investimento privado acertado para os próximos anos será suficiente como motor. Ele estima uma injeção de cerca de R$ 80 bilhões ao ano pelos próximos dez anos, sem incluir privatizações em curso ou futuras.
“De um lado, temos a retomada dos investimentos, que é o pé no acelerador da economia. Ajustou a parte fiscal monetária, a inflação vai descer, e o investimento está subindo. Só que o Banco Central ainda puxando o freio. Era para estarmos crescendo mais, como estamos combatendo a inflação estando crescendo menos.”
O ministro saiu animado de Davos com o que descreveu como mudança de perspectiva em relação ao Brasil. A seu ver, o país deixou de ser visto com a desconfiança e até alguma hostilidade que ele diz ter sentido em 2019 e 2020 e passou a ser mais respeitado.
“Nosso desempenho desmontou a descrença em relação ao Brasil.” Com a crise, “o Brasil agora é percebido de forma diferente”, afirmou. “É uma democracia, aperfeiçoando as instituições e por isso barulhentas, em transição para economia de mercado e um gigante verde.”
Luciana Coelho / Folha de São Paulo