Em um sobrado simples em uma rua de terra batida no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, um ateliê de costura improvisado divide espaço com um amontoado de papéis, recortes de jornal e lembranças dos mais de trinta anos de trajetória política de Jair Bolsonaro (PL).
Entre roupas para conserto e croquis para a confecção de equipamentos de voo livre, mora, sozinho, o aposentado da Marinha Mercante Waldir Ferraz, 1,88 metro, magérrimo e autointitulado o amigo “Zero Zero” do presidente da República. Jacaré, o apelido que ganhou desde os tempos em que acompanhava o ex-capitão na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, não é um bolsonarista qualquer.
Ele é bolsonarista antes de Jair ter entrado para a política, antes de o bolsonarismo ter virado uma ideologia para pelo menos 20% dos brasileiros e antes de os filhos e ex-mulheres terem se tornado um motivo frequente de dor de cabeça para o presidente. A amizade entre os dois começou há mais de três décadas a partir da insatisfação que ambos compartilhavam com os baixos salários pagos aos oficiais. Desde então, só se fortaleceu. A reportagem é da revista “Veja.
As conversas também são presenciais. Desde a época da transição de governo, Jacaré é frequentador assíduo dos palácios. Na última terça-feira, 18, ele esteve no Planalto, onde se reuniu com o presidente e, segundo ele, colocou os assuntos em dia. É com essa autoridade de quem compartilha da intimidade e da história de vida de Bolsonaro que Jacaré contou a VEJA detalhes do notório esquema da rachadinha, um dos principais motivos de desgaste para Bolsonaro desde o início de seu mandato presidencial.
Em encontros no Rio de Janeiro e em Brasília, nos quais as conversas foram gravadas, Jacaré declarou que houve rachadinha nos gabinetes de Jair, Flávio e Carlos Bolsonaro e afirmou que a advogada Ana Cristina Valle, ex-mulher do presidente, foi quem organizou e comandou a arrecadação irregular de parte dos salários dos servidores, prática que configura o crime de peculato.
Jacaré disse ainda que o presidente foi traído e não sabia dos rolos da ex-esposa, que ainda hoje chantageia Bolsonaro, pedindo dinheiro para manter o seu silêncio. “Ela fez nos três gabinetes. Em Brasília, aqui no Flávio e no Carlos. O Bolsonaro deixou tudo na mão dela para ela resolver. Ela fez a festa. Infelizmente é isso. Ela que fazia, mas quem é que assinava?”, pergunta Jacaré. “Quem assinava era ele. Ele vai dizer que não sabe? É batom na cueca. Como é que você vai explicar? Ele está administrando. Não tem muito o que fazer”, acrescenta, referindo-se a Jair Bolsonaro.
As informações são de Veja.