Sete anos após estarem no centro de um escândalo político que quase custou o mandato de Michel Temer (MDB), os empresários Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, estiveram nesta segunda-feira (27) em um encontro no Palácio do Planalto com o presidente Lula (PT).
Essa é ao menos a terceira oportunidade em que os irmãos aparecem em um compromisso ao lado do petista.
Em abril, o presidente esteve num evento com os empresários em visita a uma indústria de processamento de carne da JBS. Em março do ano passado, os Batista integraram a comitiva do petista na viagem que ele fez à China.
Nesta segunda, os executivos, ao lado do CEO da JBS, Gilberto Tomazoni, participam de reunião com o mandatário, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), outros 30 executivos do setor e representantes de associação, como Marcos Molina, da BRF/Marfrig.
O encontro ocorreu, segundo o Planalto, para tratar da iniciativa de doações de proteína animal para complementar cestas básicas para o Rio Grande do Sul. Ambos entraram no Planalto pela portaria principal.
Em maio de 2017 veio a público gravação de conversa do então presidente da República, Michel Temer, com Joesley Batista. Com base nela, a PGR (Procuradoria-Geral da República) afirmava que o presidente havia autorizado a compra do silêncio de potenciais delatores, em especial do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha.
No mês anterior, os irmãos haviam assinado um acordo de delação premiada com o Ministério Público em que contaram ter recebido benefícios em troca de recompensa a agentes públicos.
A divulgação da gravação causou uma crise que quase derrubou Temer. O emedebista, porém, seguiu no poder e conseguiu posteriormente barrar duas denúncias na Câmara dos Deputados.
A delação dos irmãos Batista atingiu também o PT.
Na época, Joesley disse em depoimento ter depositado aproximadamente US$ 150 milhões em contas no exterior, a pedido do ex-ministro petista Guido Mantega. Essas contas teriam sido usadas em benefício de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff, ambos do PT, e foi gasto, segundo ele, “tudo em campanha”.
Ele não afirmou ter tratado desse assunto diretamente com Lula ou com Dilma, apenas com Mantega, e disse que inicialmente nem sabia que o dinheiro tinha alguma vinculação com os dois. As defesas de Lula e Dilma sempre afirmaram que eles jamais solicitaram pagamentos ilegais.
Os encontros com Lula têm marcado a reaparição dos irmãos Batista na vida empresarial e política. Ambos estavam afastados do conselho de administração da JBS desde maio de 2017, quando renunciaram aos cargos por pressão do mercado em meio a investigações da Operação Lava Jato.
Em março deste ano, os nomes de Wesley e Joesley foram apresentados para retornar ao conselho da empresa.
No evento em abril, Lula afirmou que o Brasil não pode viver subordinado a mentira, maldade e intriga. O presidente visitou unidade da empresa em Campo Grande, onde acompanhou o primeiro embarque de carne para a China a partir de uma das fábricas da JBS, habilitadas para exportar ao país asiático.
Ao cumprimentar as autoridades presentes, Lula elogiou o empresário Zé Mineiro, fundador da JBS, e disse que fica “sempre muito orgulhoso quando alguém consegue vencer na vida”. Na sequência, afirmou que o patriarca criou uma família predestinada a ter sucesso.
“Quero cumprimentar o Joesley, o Wesley aqui, que são os herdeiros primeiros deles, responsáveis para que essa empresa se transformasse na maior empresa produtora de proteína animal do mundo”, disse.
Depois, ao citar projeções de crescimento para a indústria automobilística no país, o presidente brincou com o empresário: “Até você vai poder comprar carro novo, Joesley.”
Em 2023, o ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), suspendeu os efeitos do acordo de leniência que a J&F (holding que administra os negócios da família) havia assinado com o MPF (Ministério Público Federal) em 2017.
Ele atendeu a pedido dos Batista, que alegaram coação de procuradores da Lava Jato a representantes da holding. Com a decisão, foram suspensas multas que totalizavam R$ 10,3 bilhões.
A JBS fechou 2023 com receita líquida de R$ 364 bilhões, mas com prejuízo de R$ 1 bilhão.
Marianna Holanda e Renato Machado / Folhapress