Bolsonaro corrobora voto na ONU crítico à guerra na Ucrânia, mas não cita Putin

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Sem criticar diretamente Vladimir Putin ou responsabilizar a Rússia, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou no sábado (26) que a posição do Brasil em defesa da soberania e integridade territorial de países sempre foi clara. Ele também destacou os esforços do Itamaraty para coordenar a operação de retirada de brasileiros na Ucrânia.

Bolsonaro falou sobre o conflito russo-ucraniano um dia após o Brasil ter votado a favor de uma resolução no Conselho de Segurança da ONU para condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia. A medida foi barrada por Moscou, que tem o poder de veto por ser um dos cinco membros permanentes do colegiado.

“A posição do Brasil em defesa da soberania, da autodeterminação e da integridade territorial dos Estados sempre foi clara e está sendo comunicada através dos canais adequados para isso, como o Conselho de Segurança da ONU, e por meio de pronunciamentos oficiais”, escreveu Bolsonaro em uma rede social.

Expressões como soberania, autodeterminação dos povos e integridade territorial têm sido utilizadas nas organizações internacionais para criticar a invasão da Ucrânia por tropas russas.

No entanto, em sua sequência de mensagens Bolsonaro não fez referências diretas a Moscou ou a Putin, com quem se encontrou em 16 de fevereiro durante uma visita a Moscou.

Na ocasião, Bolsonaro se disse “solidário” à Rússia, numa fala interpretada no Ocidente como demonstração de simpatia à então possível mobilização militar do Kremlin nas fronteiras ucranianas, agora consolidadas.

Na sexta-feira (25), pela primeira vez a representação do Brasil na ONU usou termos duros para condenar a ação de Moscou. O embaixador brasileiro na organização, Ronaldo Costa Filho, disse que as preocupações de segurança dos russos não dão a eles o direito de ameaçar o território de outro Estado.

Em sua publicação nas redes sociais neste sábado, o presidente Bolsonaro disse que, até o momento, 50 brasileiros foram removidos para países vizinhos, entre eles jornalistas, estudantes, empresários e atletas.

“Também coloquei meus ministros, assessores e a diplomacia brasileira a serviço da evacuação de brasileiros por vias terrestres”, escreveu. Bolsonaro disse ter ordenado que duas aeronaves fossem disponibilizadas para uma eventual repatriação dos brasileiros que ainda estão em território ucraniano.

“Mesmo diante de um cenário difícil, reforçamos: ninguém será deixado para trás”, disse. “Peço aos brasileiros em territórios conflagrados que mantenham-se firmes, sigam as diretrizes e nos reportem qualquer incidente. Sei das dificuldades, mas não pouparemos esforços para resolvê-las.”

Segundo Bolsonaro, o Itamaraty enviou uma missão de diplomatas para a fronteira da Romênia com a Ucrânia. A pasta também coordena a operação de remoção de brasileiros e está em contato direto com o chefe da estação central de trens de Kiev e com autoridades locais.

O presidente aproveitou a postagem para atacar a imprensa. “Infelizmente, mesmo em um momento sensível, em que estão em jogo vidas humanas, princípios inegociáveis das relações internacionais e recursos importantes para a vida dos brasileiros, parte da imprensa insiste em gerar ruído e em desinformar os brasileiros em troca de cliques”, disse.

“Nem um conflito armado, indesejado por todos nós, é capaz de despertar nessas pessoas o devido senso de responsabilidade e o compromisso com a verdade necessários para que nosso povo atravesse esse momento difícil com serenidade e consciência da situação real de nosso país.”

Bolsonaro afirmou ainda que o governo está focado em garantir a segurança do Brasil, “proteger os interesses do nosso povo, auxiliar os cidadãos brasileiros que se encontram nas regiões conflagradas e contribuir para uma resolução pacífica do conflito”.

Com o veto russo à resolução do Conselho de Segurança, o placar serviu para que os países mostrassem seu descontentamento com a ação de Putin. Também teve como objetivo destacar o isolamento diplomático do político.

A resolução vetada condenava a declaração feita pelo presidente russo de uma “operação militar especial” na Ucrânia; deplorava nos termos mais fortes a agressão contra a Ucrânia, em violação à Carta da ONU; e decidia que o Kremlin deveria interromper imediatamente o uso da força contra o território ucraniano.

Também determinava que a Rússia deveria retirar suas tropas da Ucrânia de forma imediata e incondicional e rejeitava o reconhecimento feito por Moscou das províncias rebeldes ucranianas de Donetsk e Lugansk.

A medida, proposta por EUA e Albânia, teve 11 votos a favor, 1 contra (Rússia) e 3 abstenções (China, Índia e Emirados Árabes Unidos). A reação do Conselho de Segurança ocorreu um dia após a Rússia atacar a Ucrânia e estabelecer uma presença militar no Donbass (leste do vizinho). O conflito atinge várias partes da Ucrânia e neste sábado chegou à capital, Kiev.

Com informações Danielle Brant/Ricardo Della Coletta/Folhapress

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