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O presidente norte-americano Donald Trump disse a Lula, na conversa que os dois tiveram nesta segunda (6), que o encontro que tiveram na Assembleia da ONU, no mês passado, foi uma das “poucas coisas boas” que aconteceram a ele no evento.
Crítico da ONU, Trump reclamou, em seu discurso na Assembleia, até mesmo da escada rolante, que não funcionou quando ele e a primeira-dama dos EUA, Melania Trump, tiveram que usá-la. Na mesma fala, elogiou Lula e disse que houve uma “excelente química” entre os dois em breve encontro que tiveram em uma sala da organização.
Na conversa entre Lula e Trump nesta manhã, feita por videoconferência, os dois falaram sobre a importância dos EUA e do Brasil, que definiram como os maiores países da América e até do Ocidente.
Lula pediu a suspensão do tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros importados pelos EUA e também a revisão do cancelamento dos vistos de sete ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e de integrantes de seu governo. As medidas foram tomadas sob o argumento de que o comércio entre os dois países era desequilibrado e de que havia uma caça às bruxas no Brasil contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Trump não respondeu diretamente sobre a questão no diálogo com o petista, já que a conversa, segundo um ministro que estava presente no momento, foi amistosa, mas “superficial”.
Os dois presidentes combinaram que todos os assuntos serão tratados posteriormente entre as equipes de alto nível dos respectivos governos. Da parte brasileira, os interlocutores serão o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o chanceler Mauro Vieira.
De acordo com comunicado do Palácio do Planalto, Trump escalou seu secretário de Estado, Marco Rubio, para dar sequência às negociações com autoridades brasileiras sobre o tema. Ambos líderes concordaram ainda em realizar uma reunião presencial em breve, e Lula sugeriu a cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático), no final de outubro na Malásia, como uma opção.
A nota ainda afirma Lula se colocou à disposição para viajar aos Estados Unidos e encontrar-se com Trump.
“O presidente Trump designou o secretário de Estado Marco Rubio para dar sequência às negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda Fernando Haddad. Ambos os líderes acordaram encontrar-se pessoalmente em breve. O presidente Lula aventou a possibilidade de encontro na Cúpula da Asean, na Malásia; reiterou convite a Trump para participar da COP30, em Belém (PA); e também se dispôs a viajar aos Estados Unidos”, afirmou o Palácio do Planalto.
A nota do governo descreve que a conversa telefônica durou 30 minutos e ocorreu “em tom amistoso”. Lula e Trump “relembraram a boa química que tiveram em Nova York por ocasião da Assembleia Geral da ONU”, diz o Planalto.
Ao defender o fim do tarifaço, Lula levantou argumentos já utilizados por autoridades brasileiras, entre eles o de que o Brasil é um dos três únicos integrantes do G20 que mantêm déficit com os EUA na balança de bens e serviços —os outros são Reino Unido e Austrália.
A conversa na manhã desta segunda foi o primeiro contato desde o encontro de menos de um minuto entre os dois na Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York.
Depois que Trump disse em seu discurso que houve excelente química com Lula, o brasileiro afirmou em coletiva de imprensa que o republicano havia recebido informações erradas sobre o Brasil e que havia sido uma surpresa boa a referência de Trump à química entre eles.
Sob Trump, o governo dos Estados Unidos impôs um tarifaço de 50% sobre uma série de produtos brasileiros, com exceções para setores-chave, como o de aviação —nesse caso, sujeito a uma sobretaxa de 10%.
Mônica Bergamo/Folhapress