A Polícia Federal listou movimentações financeiras atípicas dos advogados Nelson Wilians e Willer Tomaz e do empresário Paulo Octávio na apuração sobre fraudes em descontos de aposentadorias do INSS.
Os dados estão em um conjunto de relatórios que citam transações de centenas de pessoas e empresas. Os documentos foram elaborados a partir de comunicações bancárias que são feitas ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) em caso de movimentações atípicas, mas a PF não atribui suspeitas a essas pessoas e não as relaciona com as investigações do caso do INSS.
A Justiça tornou públicos esses relatórios ao levantar o sigilo de parte dos processos, no fim de abril, incluindo informações fiscais e bancárias de pessoas que não são investigadas. O sigilo voltou a ser estabelecido nas últimas semanas.
Em documentos que somam ao menos 400 páginas, a Polícia Federal analisou RIFs (Relatórios de Inteligência Financeira) do Coaf que mencionam movimentações dos advogados e do empresário, entre outras centenas de pessoas e empresas.
Os dados incluem movimentações de R$ 4,6 bilhões do escritório de advocacia e de uma empresa de investimentos de Nelson Wilians, feitas de julho de 2019 ao mesmo mês de 2024. Cerca de metade do valor é de créditos ligados às contas do advogado, enquanto o restante é dos débitos.
Os investigadores, porém, não citam conexões entre estas movimentações e a suposta fraude.
A documentação que se tornou pública também não detalha a razão dos dados de Nelson Wilians serem citados no inquérito. No entanto, eles estão incluídos nos mesmos RIFs que trazem informações sobre o empresário Maurício Camisotti, que é apontado pela investigação como possivelmente “um dos beneficiários finais dos esquemas fraudulentos de descontos indevidos”.
Em 2024, o site Metrópoles noticiou que um relatório do Coaf citava pagamentos de R$ 15,5 milhões feitos por Wilians a Camisotti.
Em nota, a assessoria de Nelson Wilians disse que ele e seu escritório não são alvos de investigação e não foram notificados para prestar qualquer esclarecimento. Também afirmou que os valores pagos a Camisotti são relacionados à compra de um imóvel, “transação de natureza privada”.
“A exposição de dados vinculados a RIFs pode gerar interpretações equivocadas e comprometer a imagem de pessoas e empresas sem relação com os fatos investigados. No caso em questão, mais de cem RIFs referem-se a transações legítimas, apenas correlacionadas, em algum momento, a alvos da operação”, disse Wilians, em nota.
Wilians é conhecido por mostrar uma rotina de luxo nas redes sociais. Ele também esteve à frente de casos de repercussão na mídia, como ao representar Rose Miriam di Matteo, viúva de Gugu Liberato.
“Os R$ 4,3 bilhões mencionados, por exemplo, não guardam qualquer vínculo com o escândalo citado, sendo oriundos de movimentações de conta vinculada ao escritório, que atua como patrono de mais de 20 mil empresas em milhares de ações judiciais em todo o país”, diz ainda o advogado.