Aliados de Bolsonaro projetam reação tímida de apoiadores e culpam punição a conta-gotas

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Aliados de Jair Bolsonaro (PL) admitem a expectativa de reações tímidas de apoiadores ao fim do processo da trama golpista, com a possibilidade de prisão em regime fechado em presídio comum ou em casa —a ser definida pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. A justificativa é que as restrições impostas a conta-gotas ao ex-presidente acabaram reduzindo os impactos e a mobilização nas ruas.

Bolsonaro está em prisão domiciliar desde 4 de agosto, por ordem do magistrado, que avaliou que ele havia descumprido a proibição de usar as redes sociais. O primeiro embargo da defesa do ex-presidente foi pautado para ser julgado no plenário virtual do STF de 7 a 14 deste mês, e a previsão é que os recursos sejam considerados esgotados ainda neste ano para o início do cumprimento da pena.

Caberá a Moraes definir os detalhes da execução penal. O ex-presidente pode permanecer em prisão domiciliar ou ser transferido para um presídio, como o complexo penitenciário da Papuda, em Brasília, ou para a superintendência da Polícia Federal na capital federal.

Aliados dizem que o pior dos cenários seria a Papuda, mas esperam que ele seja mantido em domiciliar, devido ao seu quadro de saúde debilitado —com crises de soluço, vômitos e mal-estar.

Independentemente do destino de Bolsonaro, seu entorno admite não projetar uma mobilização robusta em reação à sentença final, como aconteceu com Lula (PT), preso em 2018 por ordem do então juiz Sergio Moro (União Brasil). Eles afirmam que a escalada das restrições contra o ex-presidente, da apreensão do passaporte à prisão domiciliar, acabou reduzindo a importância do início do cumprimento da pena junto aos apoiadores.

Em conversas com a Folha, aliados como o pastor Silas Malafaia ilustraram esse argumento com a comparação com um sapo em panela fervente. “Se você tentar botar um sapo numa água quente, ele pula fora. Mas se você botar um sapo numa água fria, ligar o fogo devagarzinho, ele vai morrer cozido”, disse o religioso, organizador de atos bolsonaristas em São Paulo.

“A maldade não é feita de uma só vez. Ela é feita devagar. E aí o ser humano se acomoda. Para chegar ao ponto [de dizer] assim, [Bolsonaro] ‘já está preso mesmo’. A covardia é feita de maneira planejada para neutralizar a reação do povo.”

O movimento de baixa adesão de apoiadores já foi observado com a prisão domiciliar de Bolsonaro, quando as reações só foram vistas nas redes. Depois, em setembro, apoiadores se reuniram em uma vigília em frente ao condomínio do ex-presidente, na noite em que ele foi condenado a quase três décadas de prisão. Apenas cerca de 40 pessoas estiveram no local.

O maior ato, desde sua domiciliar, foi o 7 de Setembro nas capitais, em especial na avenida Paulista. Mas, desde então, foram poucas as mobilizações. Em Brasília, eles organizaram uma carreata em defesa da anistia.

Quando preso, Lula contou com esforços do PT e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) na montagem de um acampamento e da vigília Lula Livre em Curitiba (todos os dias os participantes entoavam “bom dia” e “boa noite, presidente”). Também foram organizadas dezenas de visitas de figuras de peso ao petista, seguidas de entrevistas coletivas de imprensa. Nada similar está sendo montado pelo PL às vésperas do recolhimento de Bolsonaro.

O entorno do ex-presidente e políticos de direita citam outros motivos para justificar a ausência de mobilização. Parte deles afirma que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, investigado no inquérito da trama golpista, não tem interesse em empenhar esforços, inclusive recursos financeiros, para reagir à prisão do aliado.

Segundo esta interpretação, Valdemar poderia ganhar mais politicamente com Bolsonaro preso, diante da figura de um mártir em seu partido, do que com o ex-presidente solto, precisando dividir com ele o comando e as decisões do PL.

Uma ala mais radicalizada do partido, ligada a Eduardo Bolsonaro (PL-SP), vê no dirigente uma figura do centrão e busca mudar os rumos da legenda. Valdemar, por sua vez, deixa a decisão final de montagem de chapas com o ex-presidente e se queixa a aliados sobre a dificuldade de fazer campanha com Bolsonaro preso.

Outra análise do entorno de Bolsonaro é de que apoiadores estariam com medo de se manifestar diante dos avanços das investigações e condenações na corte.

A decepção da militância bolsonarista mais engajada também é citada como explicação para a tímida reação. O grupo não teria gostado das brincadeiras que o ex-presidente fez com Moraes durante interrogatório em junho (jocosamente, ele convidou o ministro para ser seu vice nas eleições de 2026).

Segundo esta leitura, quando Bolsonaro e seus filhos negaram apoio a qualquer anistia que não envolvesse o ex-presidente, esses eleitores também teriam passado a desconfiar que a família tem como prioridade defender a si própria e seu capital político acima de tudo.

Um integrante do PL afirmou à reportagem haver cansaço entre políticos da base bolsonarista diante da insistência do clã na pauta da anistia e da resistência em escolher um candidato para concorrer à Presidência no próximo ano.

Inelegível, Bolsonaro mantém seu nome na disputa, respaldado publicamente por aliados e seus filhos. A expectativa é de que ele anuncie um sucessor em janeiro ou fevereiro de 2026, mas esse prazo vem sendo estendido há meses.

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