O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil avançou 0,4% no segundo trimestre em relação aos três meses iniciais de 2025, apontam dados divulgados nesta terça-feira (2) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O resultado confirma uma desaceleração da economia nacional, que havia crescido 1,3% no primeiro trimestre, sob impacto da supersafra de grãos. Sem o mesmo impulso da agropecuária e com os juros altos para conter a inflação, a atividade perdeu ritmo de abril a junho, como era esperado por analistas.
A variação de 0,4% veio praticamente em linha com a mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,3%, de acordo com a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,1% a 0,8%.
O IBGE revisou a taxa de crescimento do PIB do primeiro trimestre de 1,4%, como divulgado anteriormente, para 1,3%. Os efeitos diretos da safra de grãos ficam mais concentrados no indicador de janeiro a março.
Do lado da oferta, os serviços cresceram 0,6% no segundo trimestre, seguidos pela indústria, que avançou 0,5%. Ambas as taxas ficaram acima das verificadas no primeiro trimestre (0,4% e 0%). Já a agropecuária teve variação negativa no intervalo de abril a junho (-0,1%), após o salto no início do ano (12,3%).
O desempenho positivo na indústria se deve ao crescimento de 5,4% na atividade extrativa. Por outro lado, houve retração de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-2,7%), transformação (-0,5%) e Construção (-0,2%).
Do lado da demanda, o PIB teve ajuda do consumo das famílias, que cresceu 0,5%. Esse componente, contudo, desacelerou ante o primeiro trimestre, quando a alta havia sido de 1%.
Ainda do lado da oferta, tanto o consumo do governo (-0,6%) quanto os investimentos produtivos (-2,2%) tiveram queda de abril a junho. A retração dos investimentos, medidos pela FBCF (formação bruta de capital fixo), foi a primeira após seis trimestres de altas consecutivas.
No segundo trimestre, além de não ter o mesmo empurrão da agropecuária, a economia continuou convivendo com juros elevados. A situação dificulta o consumo e os investimentos produtivos, já que o crédito fica mais caro para famílias e empresas.
O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) elevou a taxa básica de juros (Selic) a 15% ao ano em junho. A Selic permaneceu nesse patamar na reunião mais recente do colegiado, em julho.
Com o choque dos juros, o BC tenta esfriar a demanda por bens e serviços. A medida busca conter a inflação.
O mercado de trabalho, por outro lado, seguiu mostrando sinais de força no segundo trimestre, o que impediu uma desaceleração ainda maior do PIB, conforme analistas.
A taxa de desemprego caiu a 5,8% nos três meses até junho, o menor patamar da série histórica do IBGE, iniciada em 2012. Foi a primeira vez que o indicador ficou abaixo de 6%.
O PIB é a soma dos bens e serviços produzidos por um país em um determinado período (trimestre ou ano). Seu avanço é usualmente chamado de crescimento econômico.
Na mediana das projeções, o mercado financeiro passou a esperar aumento de 2,19% para o PIB no acumulado de 2025, de acordo com o boletim Focus, divulgado pelo BC na segunda (1º). A estimativa para este ano era menor, de 2,01%, ao final de 2024.
O Ministério da Fazenda, por sua vez, projeta crescimento de 2,5% em 2025, conforme revisão anunciada em julho.
Analistas ainda se perguntam até que ponto o governo Lula (PT) estará disposto a abrir mão de medidas para estimular a economia antes das eleições de 2026.
No cenário global, há incertezas relacionadas à guerra comercial de Donald Trump. O Brasil é um dos países atingidos pela política de sobretaxas dos Estados Unidos.
Leonardo Vieceli e Eduardo Cucolo/Folhapress